Embora o epicentro do sismo tenha sido no Norte de Lombok, e onde está a maior parte da destruição, vou focar-me em Gili Trawangan, pois era aí que me encontrava quando aconteceu. Vou ser o mais descritiva possível para que possam “viver” comigo o que se passou naquela noite e nos dias seguintes. Em Gili T sentimos bastante o sismo, visto que as 3 Gilis estão a Norte de Lombok e muito próximas.
O DIA 5 DE AGOSTO: O DIA EM QUE A TERRA TREMEU
O dia foi tranquilo, passado no homestay, entre amigos. Ainda ponderámos ir ao sunset, mas quando o sol se começou a por, decidimos ir para casa.
Era cedo, e por volta das 18h/19h já estaríamos por casa (embora não tenha muito noção das horas). Durante toda a semana que seguia o Rudi estaria de folga do trabalho, e este era o primeiro dia. Decidimos deitar-nos cedo para que o dia seguinte começasse cedo também e assim fosse toda a semana.
E assim foi, ainda ainda antes das 20h já estávamos deitados! Tinha vestido pijama completo.
Nota: é estranho dizer isto, mas muitas vezes ou durmo vestida ou com roupa ao lado…como se tivesse medo que algo acontecesse…mesmo em Portugal, não só aqui. E uma das luzes fica sempre acesa (neste caso temos sempre a da casa de banho acesa como luz de presença).
Entretanto, luz apagada, e nem ainda nos tínhamos composto e tudo abana por todo o lado, um estrondo brutal. Ficamos imediatamente às escuras, não se via nada em casa nem na rua. Apenas se ouvia os gritos das pessoas. Ainda em casa, quando nos apercebemos que era um sismo voámos (literalmente v o á m o s !!!) para a porta, numa tentativa de equilíbrio dentro de casa. O Rudi ainda se magoou no braço, porque ao passar pela porta, a mesma deslocou-se e ele foi contra ela!
Entre ouvir as nossas coisas a cair ( e não temos muita coisa em casa), o maior pânico foi quando chegámos à porta. A casa abanava de tal forma que, não conseguíamos rodar a chave. O barulho era ensurdecedor, janelas, portas, e difícil manter o equilíbrio, embora estivéssemos sempre de mãos dadas para nos apoiarmos um ao outro.
Finalmente conseguimos sair, descalços, e ainda esbarramos contra uma rede que temos na entrada da casa (entretanto já a tirámos! Regra: não haver mais obstáculos no caminho até à rua!).
Na rua, olhamos para a nossa casa e as que estavam à volta, tudo intacto. Pessoas aos gritos, outros a fechar as suas lojas, pessoas a correr. E entretanto, a terra tinha parado de tremer.
Podem ter sido segundos, mas foi de tal forma intenso que não tem explicação. Parecia um filme. O que nos passa para cabeça naquele momento é tanta coisa, mas sobretudo como sobreviver!
Depois deste primeiro estrondo, voltei a casa ainda duas vezes. Para buscar o telemóvel do Rudi, vestir uns calções de ganga, os chinelos, buscar água, e trancar a porta !!! Esqueci-me do passaporte.
Depois disso corremos para o ponto mais alto de Gili Trawangan (por coincidência falei deste ponto mais alto no meu ultimo post, no dia do acontecimento). No caminho, locais e turistas sem saberem para onde ir, a perguntarem o que fazer. Nós dizíamos-lhes para nos seguirem.
Uns levavam todas as suas malas, outros coletes de salvação, havia de tudo.
Fomos até ao monte e por ali ficamos a noite toda. Depois do grande tremor ainda houve outra grande réplica. Que coisa esquisita, o chão debaixo dos nossos pés tremer. Só mostra o quanto somos pequeninos face à força da natureza.
Foi no monte que percebemos que o sismo tinha sido de intensidade 7! Intensidade 7 de uma escala de 10 (Escala de Richter). O risco de Tsunami era real. O meu maior medo. A sensação é mesmo de pequenez, de impotência, porque face a isto, só nos resta esperar.

Intensidade do Sismo (o ponto azul não representa a minha localização) Fonte: BMKG
Seguiu-se outra valente réplica, o monte abanou l-i-t-e-r-a-l-m-e-n-t-e todo !! Seguiu-se mais momentos de pânico. Uns começaram a correr, outros aos gritos, outros rezavam. Como imaginam a noite não se vê nada. E o risco de tsunami continuava real.
Avançámos mais um pouco, tentando ficar longe de obstáculos, e por ali ficamos a noite toda, de “modo alerta”. A noite foi interminável.
Entretanto o risco de tsunami acabou, e muitos desceram até as suas casas ou homestays para ir buscar cobertores, abrigos, pois fazia muito frio (acreditam?! Frio!).
Conseguimos um cobertor e por ali ficamos a noite toda. Replicas seguidas de mais replicas, mas já sem risco de tsunami. Aproveitei para olhar para o céu, ainda vi 3 estrelas cadentes. Acho que dentro do azar, tive sorte.
Entretanto amanheceu, e este era o cenário:

O imponente Mt Rinjani em Lombok, onde fica o epicentro

Locais e turistas, todos acampamos no Monte nessa noite

Mt Rinjani em Lombok ao longe, e depois Gili Air e Gili Meno. As 3 Gilis muito perto do epicentro.
O mar parecia calmo, e descemos imediatamente até ao homestay e à nossa casa para ver se ainda estavam por lá…
Respiramos de alivio. Tudo o que é nosso estava no mesmo sitio, a casa intacta, mas por dentro tudo no chão como era de esperar, frigorífico aberto, etc
Não vimos muito de Gili, mas o que vimos era devastador. Muita destruição.

Quando começámos a descer foi disto que vimos por todo o lado

Cenário de devastação por todo o lado

Imensos muros caíram

Não há muito a dizer nesta foto…
Decidimos deixar Gili T rapidamente, pois pensamos que seria o mais seguro e a opção mais sensata. Como nós, milhares decidiram fazer o mesmo. Não sei mesmo de onde saiu tanta gente!
A SAÍDA DA ILHA
Um verdadeiro desafio para sair da ilha. Uns ainda foram para o monte, pois as replicas seguiam. Mas não havendo mais alerta de tsunami, fomos para a praia.
O CAOS.
Gente para a frente e para a trás. Nem sinais de barcos. Ninguém dizia nada.
Ainda por momentos pensamos em ficar, ate que começaram a aparecer alguns barcos locais, mas sem sucesso de resgate.
Seguiu-se outra grande replica, estávamos nos na praia.
Entretanto vinha mais gente, e finalmente os fastboats da Ekajaya e da Patagonia (as minhas duas companhias de barco favoritas, que fazem travessia Bali-Gilis) começavam a chegar.
Perdi a conta de quantas vezes vinham e iam. Sempre CARREGADOS de gente.
O pesadelo começou!
Era impossível chegar aos barcos. A serio, nunca tinha visto nada assim. Acho que foi até pior que o sismo. Não sei. Era impressionante ver pessoas a trepar para os barcos, empurrarem-se, não havia respeito nem com as pessoas mais velhas nem com as crianças. Decidi filmar, porque isto é impossível de explicar sem mostrar imagens.
Milhares de gente aguardava saída.

As fotos não mostram nem metade da multidão que aguardava

Os barcos amontoavam-se de gente

Milhares aguardavam a sua vez
Eram 15h30 e finalmente conseguimos. Depois de estarmos desta as 7h30/8h na praia à espera. Olhar o barco a partir e ainda ver tanta gente era assustador.

O ponto mais alto de Gili T onde passámos a noite

Finalmente todos no barco a salvo e a caminho de Lombok
OS DIAS SEGUINTES
Chegados ao porto de Bangsal viemos directamente para o Centro de Lombok (de onde o Rudi é natural e onde os pais moram), que assim como a zona Sul, são zonas seguras. Pouco se sentiu por aqui, e parece que estamos noutro sitio completamente diferente, visto que nem parece que aconteceu a tragédia que assistimos dias antes.
Connosco vieram dois amigos locais e dois estrangeiros, que entretanto foram embora.

Já em casa do Rudi

Foto de todos já no dia seguinte no Centro de Lombok
Na noite seguinte ao sismo, o pai do Rudi contruiu para todos uma tenda, pois era mais seguro dormir fora de portas.
Ora vejam (isto contado ninguém acredita!):

A Tenda que o pai do Rudi montou, à porta de casa, e onde passamos todos a segunda noite pós-sismo. Infelizmente esta é a situação de milhares de pessoas em Lombok
Nos dias seguintes, ainda sentimos um novo sismo vindo da zona Norte, mas nada mais do que isso. Tenho ocupado os dias aprendendo como vivem os locais, e estado num imersão cultural brutal. Assim como a preparar os passos seguintes.
Passou uma semana desde o sucedido, e estamos ansiosos para poder voltar a Gili T e recomeçar!
REFLEXÕES FINAIS:
Acho que nada mais que possa viver superara uma experiência destas. A sensação de impotência e pequenez face à força da natureza faz-nos refletir sobre muita coisa. Nós achamos que somos donos do planeta, mas quem manda aqui é mesmo ele. Somos apenas habitantes e se não cuidarmos dele, mais tragédias destas poderão acontecer. Por isso cuidem-se e cuidem do planeta também.
O que fazer em caso de um sismo:
• Procurar fugir para zonas abertas, campos abertos, onde não haja perigo de nada cair em cima, evitar por isso edifícios.
• Se não for possível sair para a rua, dentro de casa tentar manter debaixo do vão da porta ou debaixo de uma mesa, de forma a abrigar de objectos que caiam
• Se houver perigo de Tsunami, ficar longe do mar e procurar uma zona o mais alta possível
• Tentar manter a calma e acompanhar as noticias
Já sabem que podem acompanhar tudo no meu Instagram, e nos highlights podem ver tudo sobre o Sismo em Gili T.
Boas Viagens <3
_________________________________________________________________________________
- Marca o voo na MOMONDO
- Reserva o teu alojamento no BOOKING ou no AGODA
- Se preferires alugar casa regista-te no AIRBNB
- Descobre o melhor Seguro de Viagem na IATI Seguros ( e tem 5% de desconto) ou na WORLDNOMADS
- Marca Barco para as Gilis AQUI
Faço ideia o que vosces passaram nesses dias e espero que já tenha passado tudo e volte tudo á normalidade muita força filha que melhores dias virão vai ser dificil ultrapassar esse pesadelo mas com o tempo vais conseguir ultrapassar um beijinho grande para os dois
Autor
Ola Tia 🙂 estamos bem e a salvo e isso é o mais importante ! Beijinho grande
Esses dias devem ter sido de uma adrenalina fora do normal. Ainda por cima, a sensação de estarem numa ilha, isolados de ajuda imediata caso fosse necessária, deve ser aterradora. Por acaso, nunca tive nenhum incidente do género em viagem, felizmente. Mas há sempre lições a tirar destes episódios e é isso que nos torna mais ricos. Boas viagens 😉
Autor
Olá Miguel! Bom, acho que nenhuma “aventura” que possa vir a viver superará esta experiência 😅 e acho que o maior problema foi mesmo o medo do tsunami! Faz-nos sentir mesmo pequenos … e o pior é que agora qualquer barulho me põe alerta (estou Gili Trawangan de momento)! Boas Viagens para ti tb 😎
Acredito! Deve ser traumatizante, mas certamente passará! Vou ficar a acompanhar esses relatos 😉
Eu estou a viver na Coreia do Sul há mês e meio e vou cá ficar até Janeiro. Também já assisti a uns problemas com tufões – aliás, dirige-se outro para cá agora – mas nada desse calibre!
Autor
Que maximo também! É uma experiencia super gratificante! Bem quanto aos tufoes também não tem andado facil … têm sido bem fortes e de intensidade maxima 😅 boa sorte por esses lados e tudo a correr bem! 😎
Vou para essa ilha dentro de duas semanas e estou preocupada com o alojamento. Ainda há muita destruição? Como posso saber que o hotel que vou marcar está em boas condições? obrigada
Autor
Ola Alice
Qual o sitio onde vai ficar? Talvez consiga ajudar.
A ilha recuperou bastante bem do sismo. A maioria dos sitios reabriu e esta tudo a funcionar bem 🙂
Vou ficar na Villa Almarik Resort. Qual o lado da ilha que tem melhores praias? Nós pensamos passear por toda a ilha mas seria bom sabermos as que são melhores.
Gostaríamos de ir num barco rãpido mas eu enjoo um pouco, quais os que balançam menos? O mar é tranquilo.
Se quiser que lhe leve alguma coisa de Portugal diga, só não pode ser muito grande e tem de ir bem visível. Eu vivo em Aveiro mas os meus filhos estão em Lisboa e podem recolher. Parto no sábado dia 13 de Julho. Disponha.
Muito obrigada pela resposta, já me deixa mais descansada.😃
Autor
Ola 🙂
Por esta hora a Alice já deve andar “na minha terra” eheh 🙂 Espero que se divirta!
Nos agora estamos em Portugal, mas morremos de saudades das Gilis !
beijinho e muito boa viagem
Vera